quinta-feira, 15 de junho de 2017

AUTARQUIAS E TRANSITO 2

Os gabinetes técnicos municipais andaram, durante os primeiros anos de rápido crescimento urbano, a aprovar compulsivamente novas expansões urbanas, sem contudo existir uma capacidade para planeamento a um nível inferior às directivas dos PDM, isto é, a uma escala maior, mais pormenorizada. Este acontecimento de rápido crescimento urbano levou a que, na generalidade dos casos, as soluções urbanísticas apresentadas pelos próprios promotores fossem consideradas como solução para o crescimento das zonas urbanas, muitas vezes possuindo desenho urbano deficiente e preocupações economicistas dominantes. Ressalvando que não se pode generalizar este fenómeno, considera-se contudo que, num número considerável de municípios, esta prática foi corrente durante largos anos. Com uma estratégia de crescimento caracterizada, em muitos casos, por ser pouco sustentável, os municípios na sua grande maioria ambicionaram tornar-se cada vez mais competitivos, aprovando projectos ambiciosos e promovendo o sector habitacional e industrial. Para isso criaram espaços que, muitas vezes, não previam acessibilidades adequadas às funções aí instaladas, como dimensionamento e localização correctas. Por sua vez, muitos equipamentos colectivos foram frequentemente implantados em terrenos longe da população que alegadamente pretenderiam servir, obrigando por isso a deslocações constantes, muitas delas em veículos motorizados. Esta situação deve-se em parte a uma política errada de gestão dos solos: muitos terrenos com boas localizações e oferecendo melhores condições de edificabilidade foram alvo de processos urbanísticos destinados a habitação ou a grandes unidades comerciais, pois ofereciam melhor rentabilidade. As respostas às necessidades das populações e a instalação das próprias infra-estruturas inerentes eram concedidas mediante aprovação e posterior construção das mesmas, em operações urbanísticas promovidas por promotores privados. Não é por isso de espantar que, em incontáveis casos, o actual cenário das nossas cidades e vilas reflicta a carência ou descontinuidade de factores que contribuem para a qualidade de vida por parte de quem vive ou visita estes espaços. Por exemplo, na análise de ortofotomapas representando povoações portuguesas, é fácil observar os limites das várias operações de loteamento realizadas em zonas de expansão urbana no último meio século, pois o desenho do limite do artigo loteado permite mostrar que, em excessivos casos, existe falta de articulação entre as várias operações urbanísticas. Tal facto condiciona a actuação do gestor do território, que encontra por isso dificuldade em promover uma continuidade urbana, inclusivamente na infra-estrutura rodoviária dessas operações urbanísticas.
É certo que o processo de crescimento, embora rápido, não foi feito num único momento, levando a que as operações de loteamento sucessivamente aprovadas e a sua respectiva consolidação surgissem desfasadas temporalmente. Este aspecto veio agravar e evidenciar, em geral, a falta de uniformidade e continuidade urbanística nessas novas áreas de expansão, incluindo a infra-estrutura rodoviária. Em grande medida, este aspecto acontece pela ausência de instrumentos orientadores para o desenvolvimento urbano a um nível inferior aos PDM. Como é sabido, por princípio os PDM não definem parâmetros como os alinhamentos fora das vias estruturantes previstas nos referidos planos. Existe por isso um conjunto de factores que importa analisar, como a correcta hierarquização viária, o estacionamento adequado à via, a criação de corredores para implementação de pistas cicláveis ou de reserva para acções futuras (que devem de ser alvo de estudos e reflexões em sede do desenvolvimento de planos ou estudos de hierarquia inferior), os acessos directos a vias estruturantes, etc.

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