Os gabinetes técnicos municipais andaram, durante os primeiros anos de rápido
crescimento urbano, a aprovar compulsivamente novas expansões urbanas, sem contudo
existir uma capacidade para planeamento a um nível inferior às directivas dos PDM, isto é, a
uma escala maior, mais pormenorizada. Este acontecimento de rápido crescimento urbano
levou a que, na generalidade dos casos, as soluções urbanísticas apresentadas pelos
próprios promotores fossem consideradas como solução para o crescimento das zonas
urbanas, muitas vezes possuindo desenho urbano deficiente e preocupações economicistas
dominantes. Ressalvando que não se pode generalizar este fenómeno, considera-se
contudo que, num número considerável de municípios, esta prática foi corrente durante
largos anos.
Com uma estratégia de crescimento caracterizada, em muitos casos, por ser pouco
sustentável, os municípios na sua grande maioria ambicionaram tornar-se cada vez mais
competitivos, aprovando projectos ambiciosos e promovendo o sector habitacional e
industrial. Para isso criaram espaços que, muitas vezes, não previam acessibilidades
adequadas às funções aí instaladas, como dimensionamento e localização correctas. Por sua
vez, muitos equipamentos colectivos foram frequentemente implantados em terrenos longe
da população que alegadamente pretenderiam servir, obrigando por isso a deslocações
constantes, muitas delas em veículos motorizados. Esta situação deve-se em parte a uma
política errada de gestão dos solos: muitos terrenos com boas localizações e oferecendo
melhores condições de edificabilidade foram alvo de processos urbanísticos destinados a
habitação ou a grandes unidades comerciais, pois ofereciam melhor rentabilidade.
As respostas às necessidades das populações e a instalação das próprias infra-estruturas
inerentes eram concedidas mediante aprovação e posterior construção das mesmas, em
operações urbanísticas promovidas por promotores privados. Não é por isso de espantar
que, em incontáveis casos, o actual cenário das nossas cidades e vilas reflicta a carência ou
descontinuidade de factores que contribuem para a qualidade de vida por parte de quem
vive ou visita estes espaços. Por exemplo, na análise de ortofotomapas representando
povoações portuguesas, é fácil observar os limites das várias operações de loteamento
realizadas em zonas de expansão urbana no último meio século, pois o desenho do limite do
artigo loteado permite mostrar que, em excessivos casos, existe falta de articulação entre as
várias operações urbanísticas. Tal facto condiciona a actuação do gestor do território, que
encontra por isso dificuldade em promover uma continuidade urbana, inclusivamente na
infra-estrutura rodoviária dessas operações urbanísticas.
É certo que o processo de crescimento, embora rápido, não foi feito num único momento,
levando a que as operações de loteamento sucessivamente aprovadas e a sua respectiva
consolidação surgissem desfasadas temporalmente. Este aspecto veio agravar e evidenciar,
em geral, a falta de uniformidade e continuidade urbanística nessas novas áreas de
expansão, incluindo a infra-estrutura rodoviária. Em grande medida, este aspecto acontece
pela ausência de instrumentos orientadores para o desenvolvimento urbano a um nível
inferior aos PDM. Como é sabido, por princípio os PDM não definem parâmetros como os
alinhamentos fora das vias estruturantes previstas nos referidos planos. Existe por isso um
conjunto de factores que importa analisar, como a correcta hierarquização viária, o
estacionamento adequado à via, a criação de corredores para implementação de pistas
cicláveis ou de reserva para acções futuras (que devem de ser alvo de estudos e reflexões
em sede do desenvolvimento de planos ou estudos de hierarquia inferior), os acessos
directos a vias estruturantes, etc.
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