quinta-feira, 15 de junho de 2017

O TRANSITO E AS AUTARQUIAS

Para a melhoria dos níveis de segurança rodoviária, considera-se indispensável o conhecimento da realidade da entidade gestora da infra-estrutura rodoviária – neste caso, as autarquias – que tem responsabilidades na programação, elaboração e manutenção da maior percentagem de vias rodoviárias em Portugal. No que respeita à segurança rodoviária nas vias sob sua competência, a responsabilidade de uma autarquia é igual seja para um pequeno município como Barrancos (de 1.924 habitantes), seja para um de grande dimensão populacional como a Amadora (de 175.136 habitantes). No entanto, os meios técnico-financeiros ao dispor para cada um dos municípios são distintos, não existindo uma relação directa entre a dimensão da infra-estrutura rodoviária e as verbas disponíveis afectas a cada município, quer para a contratação de técnicos qualificados, quer para o desenvolvimento de acções no âmbito da melhoria da segurança rodoviária.

Do ponto de vista da estrutura orgânica, é fácil perceber que um município com mais meios técnico-financeiros possa ter maiores possibilidades de possuir na sua orgânica uma direcção municipal, um departamento ou uma divisão de trânsito com responsabilidades no âmbito da segurança rodoviária; no entanto, a maioria das autarquias do país não possui no seu organograma uma estrutura funcional própria para esta matéria, não constando igualmente, nos seus quadros de pessoal, um técnico qualificado com formação específica para a área da segurança rodoviária. O maior problema prende-se com a ausência de técnicos com conhecimentos na área da segurança rodoviária, que sejam responsáveis por todas as matérias municipais neste campo. Algo agravado ainda mais pelo facto dos municípios não disporem, na maior parte dos casos, de verbas para a contratação de serviços qualificados externos que possam garantir complementaridade e continuidade no apoio técnico a este nível. O desenvolvimento socioeconómico que se tem verificado nas últimas décadas reflectiu-se também nas redes rodoviárias, tanto na rede rodoviária nacional, como na rede rodoviária de responsabilidade municipal. Com o rápido aumento das áreas urbanas no último quartel do século XX – que a aprovação da primeira geração dos Planos Directores Municipais (PDM) veio tentar ordenar –, assistiu-se a um exponencial crescimento de construções novas no sector da habitação, indústria, serviços ou equipamentos. Este fenómeno de crescimento rápido, fortemente alicerçado numa pressão imobiliária de índole privada, teve como consequência, entre muitas outras, o de ter provocado uma ruptura dos serviços técnicos em muitos municípios, que na altura dos PDM de primeira geração não estavam ainda suficientemente preparados para dar resposta a esta súbita pressão. Este fenómeno teve maior visibilidade em municípios onde o crescimento urbano foi mais acentuado, o que se reflectiu também, necessariamente, nas respectivas redes rodoviárias municipais, que cresceram sem o planeamento necessário.

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